Amizade e troca de experiências entre mães expatriadas
Tenho um grupo muito especial de amigas brasileiras no Rio de Janeiro. Há alguns anos, trabalhamos juntas em um curso de idiomas que já nem existe mais, mas a amizade que nasceu ali só se fortaleceu e perdura até hoje. Quando me mudei para os Estados Unidos, parti com a certeza de que as reencontraria todas as vezes que visitasse o Brasil. Menos de um ano após a minha partida, no entanto, veio a surpresa: outra amiga do grupo havia decidido sair do país e estava de mudança para Portugal.
A Raquel se mudou para Lisboa com a família há cerca de 1 ano. Consegui encontrá-la no Brasil um mês antes de sua partida. De lá pra cá não nos vimos mais, mas estamos sempre em contato pelo Whatsapp. Viva a tecnologia! O tema mais recorrente nas nossas conversas é, sem dúvida, a vida no exterior e a adaptação das nossas filhas nos novos países. Esses papos são sempre tão encorajadores e reconfortantes! Nada como conversar com uma amiga que está vivendo uma experiência parecida e é capaz de te entender com facilidade .
A decisão sobre a mudança para Portugal
Quando a filha da minha amiga Raquel completou 15 anos, elas fizeram uma viagem de um mês pela Europa. Depois dessa viagem, a Raquel começou a se sentir cada vez mais desanimada com a vida no Brasil. Ela teve tantas experiências legais nos diferentes lugares por onde passou que quando voltou ao Brasil a readaptação foi difícil.
Raquel e o marido, Rodrigo, começaram a pensar sobre a possibilidade de sair do país e construir uma nova vida em outro lugar. A ideia do casal não era uma mudança temporária, e sim algo pra toda a vida. Buscavam qualidade de vida para a família. Queriam viver com mais estabilidade, sem medo da violência diária e onde a Renatinha pudesse ter acesso à educação de qualidade.
Meses depois das primeiras conversas sobre o assunto, o Rodrigo conseguiu um emprego em Portugal. Um mês após a partida dele, Raquel, Renata e a vovó Liana desembarcavam em Lisboa com várias malas e muita esperança de uma vida melhor. Por ironia do destino, apesar de conhecerem muitos países europeus, Portugal não era um deles. As três gerações pisavam pela primeira vez na “terrinha” que viria a ser o novo lar.
A adaptação de uma adolescente brasileira em Portugal
A Renatinha, filha da Raquel, chegou a Lisboa logo após completar 16 anos. Assim como a mãe, ela sempre gostou muito de viajar e conhecer novos países e culturas. Talvez por esse motivo, ela sempre tenha tido uma atitude muito positiva em relação à mudança.
Menos de um mês após desembarcar em Lisboa, começaram as suas aulas na nova escola. Os primeiros dias não foram nada fáceis. Novo ambiente, novas disciplinas, dificuldade de entendimento da língua, escola distante de casa, ausência de transporte público eficiente para o local, etc. A Renatinha não estava habituada a nada disso. Estava acostumada a estudar pertinho de casa, cercada de amigos e professores que a adoravam, e a ser reconhecida como excelente aluna. O lado bom foi que ela fez amizade rapidamente com três meninas, sendo duas delas brasileiras, e isso facilitou um pouco a sua adaptação.
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Nas nossas conversas, Raquel comentava sobre suas preocupações com a filha e eu sempre repetia que essas dificuldades eram absolutamente normais para a idade. Eu afirmava que a adolescência é uma fase complexa e difícil e que a Renatinha, apesar de ser uma menina doce e tranquila, estava passando por essa fase, e com todas essas dificuldades adicionais ocasionadas pela mudança de país. Certamente, o tempo amenizaria os problemas e aos poucos as coisas iriam entrando nos eixos.
Seis meses após a mudança, chegaram as férias de verão e a família toda já estava relativamente adaptada. Minha amiga e o marido trabalhando, vovó Liana feliz e Renatinha se habituando à nova escola. Em parte, Renata estava feliz, adorando conhecer novos lugares em Lisboa e em outras cidades portuguesas. O que não aliviava era a saudade da antiga escola. Ela comparava o tempo todo os dois ambientes escolares e dizia pra mãe que só iria ser completamente feliz quando terminasse seus estudos no colégio e entrasse na faculdade!
Mudança de escola: adolescente feliz, família feliz
Aos poucos, a mãe começou a pesquisar novas escolas para a filha. Embora a Renata já tivesse algumas amizades, ela comentava em casa sobre as brigas frequentes que aconteciam na escola. Além dessa preocupação, a família também não estava satisfeita com o baixo rendimento da instituição no ranking de aprovados no Exame Nacional para acesso às universidades.
Depois de muita pesquisa, a Raquel descobriu que a filha poderia estudar em escolas públicas próximas ao local de trabalho de seus responsáveis. Ela não precisava se limitar às escolas vinculadas ao seu endereço residencial. E conseguiu matriculá-la em uma escola bem tradicional e conceituada da capital, a mais antiga da região, por onde passaram grandes escritores e personalidades portuguesas.
A partir daí, uma nova fase se iniciou na vida de Renata. Ela se adaptou muito bem e se sente muito feliz e motivada no novo ambiente escolar. Após um ano da mudança de país, cursando o segundo ano do ensino médio, ela tem se dedicado muito aos estudos com o intuito de conquistar uma vaga na Universidade de Lisboa.
Essa vivência nos mostra o quanto é importante darmos uma atenção especial à escolha da escola das crianças quando a família está de mudança para o exterior. Talvez por inexperiência, muitos brasileiros quando estão de mudança para países desenvolvidos e com culturas não tão distantes da nossa, não se detêm muito no planejamento escolar dos filhos. Convictos de que a educação pública no país de destino é boa, e sobrecarregados com inúmeras outras preocupações, acabam não pesquisando o suficiente sobre as escolas.
É importante ter em mente que mesmo nos países onde há educação pública de qualidade, existem diferenças entre as escolas, tanto em relação à qualidade do ensino e rendimento escolar dos alunos, como em relação ao tamanho da escola, número de alunos por turma e etc. Isso tudo merece ser analisado previamente, assim como o lugar de moradia, que vai delimitar as opções de escolas públicas disponíveis. Quando as crianças se adaptam bem na escola, já é “meio caminho andado” para a adaptação dos adultos.
Redes de apoio entre mães expatriadas
Termino esse texto celebrando a minha amizade com a Raquel e enfatizando a importância das redes de apoio entre mães expatriadas. Quando mudamos de país, precisamos de suporte emocional e de informações para várias decisões em relação à vida dos nossos filhos (escola, creche, babá, alimentação, saúde, etc). Eu, pessoalmente, tive a sorte de poder contar com o suporte de amigas que vivem ou já viveram no exterior. Da mesma forma que eu fui (e continuo sendo) auxiliada, procuro ajudar outras mães.
Aproveito para comemorar também a existência do site Brasileirinhos pelo Mundo, afinal, este é um espaço privilegiado de apoio e troca entre mães expatriadas. Nele, mães brasileiras que estão em diversas partes do mundo compartilham informações, vivências e dúvidas. É muito gratificante essa interação com tantas mulheres incríveis, colunistas e leitoras. É muito prazeroso poder dividir com vocês as dores e as delícias de ser mãe de uma “brasileirinha pelo mundo”.