Mødregruppe, o projeto dinamarquês que me ajudou no desafio de ser mãe longe do Brasil.
Antes de ficar grávida, tinha certeza que a melhor pessoa para estar ao meu lado quando meu primeiro filho chegasse seria aquela mulher que eu confiasse, que me conhecesse bem, e que me abraçaria quando eu me sentisse completamente perdida no cargo de mãe de primeira viagem.
Esta pessoa poderia ser minha mãe, minha irmã, minha melhor amiga. Tinha apenas convicção de que elas estariam lá, junto comigo, me apoiando, aconselhando e prontas para me segurar quando toda a fragilidade do primeiro ano de mãe aparecesse.
Então chegou o dia que me tornei mãe pela primeira vez. Mas não no Brasil! Na Dinamarca. Sem minha mãe, minha irmã ou minha melhor amiga. Com um recém-nascido no colo eu me perguntava: O que faço agora? Estou em um país que não é o meu, não falo a língua, não tenho minha rede de apoio e nem o abraço confortante da minha família e amigos.
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O famoso mødregruppe dinamarquês, que em tradução literal significa grupo de mães, foi o meu suporte e o meu apoio para superar os medos e as incertezas do meu primeiro ano de maternidade. Não que eu não tenha sentido falta do amparo da minha mãe, mas com toda certeza o peso da maternidade ficou bem mais suave com o grupo.
O mødregruppe, é um programa do governo dinamarquês que tem o principal objetivo de reunir mães com bebes de mesma faixa etária e que moram na mesma região, para trocarem experiências.
Diferente do Brasil, aqui, nós não levamos o recém-nascido no pediatra para exames de rotina. Existem enfermeiras especializadas para este cuidado. Essas profissionais chamadas de sygeplejerske, vêm até a sua casa e checam as condições do bebê desde a primeira semana de vida.
Essas enfermeiras fazem o atendimento de dezenas de crianças da mesma região. Desse modo, elas conhecem as condições das crianças e os perfis das mães. O que elas fazem é compartilhar o contato de um grupo de mães com bebês da mesma idade e que moram na mesma área. Porém, cabe as mães deste grupo fazerem o contato e agendar um encontro.
Em conversa informal com a minha enfermeira, ela me explicou que um dos objetivos da criação do grupo de mães, além da troca de experiências, é manter as mães com uma vida social ativa, evitando a depressão e, consequentemente, aumentando a qualidade de vida das famílias.
No caso do meu grupo começamos com encontros semanais. Em um café, restaurante ou na casa de uma das mães fizemos reuniões com troca de experiências, angústias e frustrações. Conversamos sobre amamentação, sonecas, resfriados, viagens com bebês, marca de fraldas, banho, enfim, tudo aquilo que é uma grande interrogação no começo, mas que passado os primeiros 3 meses você já sabe de cor e salteado.

Foto: Arquivo pessoal.
Com o tempo e os encontros regulares, os laços afetivos ficaram mais apertados e uma amizade ganhou espaço especial na nossa rotina de mãe. Foi assim que conheci minhas 6 melhores amigas aqui na Dinamarca. De quebra, meu filho também ganhou 6 amigos já no primeiro ano de vida.
Não faço ideia de quanto tempo existe esse programa aqui, mas conversando com minha sogra ela me contou que participou do grupo de mães e que elas se encontraram durante anos. Alguns restaurantes e cafés têm reserva especial durante a manhã para esses grupos. Você pode esticar o cobertor no chão e colocar os bebês porque os garçons já sabem que lá é a área das mães. Alguns, inclusive, regulam a luz e a música ambiente para melhor adaptação dos pequenos.
O que sinto quando converso com outras mães é que esse projeto já faz parte da cultura dinamarquesa. Toda grávida sabe que terá a oportunidade de ter o seu grupo. Algumas atividades oferecidas para bebês, como natação, música e cinema, têm preço especial quando o grupo participa junto.
Hoje, mais de um ano após nosso primeiro encontro, continuamos com nossas reuniões. O fim da licença- maternidade, o retorno ao trabalho e o início das crianças na creche nos obrigaram a diminuirmos a frequência.
Agora, nossos encontros são mensais, assim as crianças brincam juntas e continuamos batendo muito papo e trocando experiências, principalmente sobre alimentação, escola e doenças. Não paramos por aí, começamos há três meses com o “encontro de mães sem os bebês”. Uma vez por mês saímos juntas para beber cerveja ou vinho e os papais cuidam das crianças.
No nosso primeiro encontro fomos a um pub inglês bastante tradicional e especializado em cervejas. Chegamos às sete e meia da noite e saímos de lá uma da manhã. Foi uma noite incrível, cheia de conversa, risada e regada a muita cerveja. Por algumas horas, esquecemos das mamadeiras, fraldas e músicas de ninar. Éramos apenas amigas bebendo cerveja em um bar! Me senti incluída, confortável e vitoriosa no desafio do primeiro ano de maternidade. Uma ideia tão simples que me fez sentir “em casa” sendo mãe aqui na Dinamarca.
3 Comentários
Bem-vinda ao BPM kids! Sou colunista do Brasileiras Pelo Mundo desde 2013.
Você mora em Copenhague?
Aqui na Jylland, onde moro, existe um projeto chamado Familie med hjerte que orienta pais e mães de primeira viagem, preparando para o parto e primeiro ano do bebê, e também organizando os grupos de mães.
Eu era uma das mais velhas no nosso grupo e acho que por isso não deu química com as outras mães, todas na casa dos 20 e poucos anos – eu acabei de fazer 40.
Legal ler sobre a sua experiência! É fascinante como cada mulher tem uma percepção sobre a maternidade, a troca é de uma riqueza imensa.
P.s. – Sygeplejerske é qualquer enfermeiro (a) em dinamarquês 😉
Abraço!
Oi Cristiane obrigada pela mendagem! Moro em Køge, 30 minutos de Copenhague! Acho que dei sorte com o meu grupo, somos 7 mães – 3 estrangeiras! Com certeza isso me ajudou. =)
P.s. – obrigada pela informação
Que incrível!!!