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O papel da obstetriz no pré-natal da Inglaterra

Escrito por Rhaniele de Lanteuil Abril 7, 2018
O papel da obstetriz no pré-natal da Inglaterra

Neste mês, entrevisto a brasileira Suzan Correa, que trabalha há quase 10 anos como midwife (obstetriz) no NHS – o sistema público de saúde inglês. Suzan é também doula e consultora de amamentação pela UNICEF. No Facebook, administra o grupo Mamães e Grávidas Brasileiras no Reino Unido – Maternidade Ativa e a página Suzan Correa midwife/doula brasileira em Londres. Tivemos uma conversa ótima sobre o papel da obstetriz no pré-natal da Inglaterra. Venham conferir!

BPM Kids – Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória profissional:

A minha trajetória profissional começou em Londres há 10 anos. Eu morava nos EUA, onde engravidei do meu primeiro filho. Como eu não queria tê-lo longe da minha família, retornei ao Brasil. Lá, comecei um pré-natal particular e acabei parindo numa maternidade do SUS. E, infelizmente, eu passei por todas as violências obstétricas que uma mulher pode passar. Não me deram o direito a acompanhante e à analgesia (mesmo pagando por esta). Me maltrataram, me xingaram, subiram em cima de mim na hora em que o bebê estava nascendo, que é uma manobra extremamente proibida (manobra de Kristeller). Fizeram uma episiotomia sem meu consentimento e me separaram do bebê logo após o parto. Só o vi no outro dia. Enfim, eu tive a pior experiência de parto normal que uma mulher pode ter.

Decidi por nunca mais ter filhos para não passar por tudo novamente. Voltei para os EUA, acabei me separando e me mudei para Londres. Aqui, conheci meu atual esposo. Por ironia do destino, eu engravidei da minha segunda filha por acidente. Foi aí que eu conheci o trabalho das midwives e comecei a estudar para ser uma aqui na Inglaterra.

BPM Kids – Como foi a sua experiência de parto aqui?

Eu estava muito traumatizada com o meu primeiro parto. Inclusive, cogitei uma cesárea. Minha midwife disse que não via motivos, uma vez que minha gestação era de baixo risco e me deu segurança de que eu não passaria por todo o trauma novamente. Tive um atendimento maravilhoso no St Mary’s Hospital. Foi um parto normal, lindo, fui extremamente respeitada, acolhida e muito bem tratada. Isso me deu forças para querer ser midwife.

A violência obstétrica que passei no Brasil acabou me dando forças para ser uma ativista dos direitos femininos.

BPM Kids – Afinal, quem é a midwife?

Midwife é uma obstetriz. Esta profissão já existe no Brasil e na Inglaterra há muitos anos. Eu, inclusive, já facilitei workshops na USP Leste em SP. A midwife é a profissional que irá fazer todo o pré-natal, o parto e o atendimento no pós-parto. Em uma gravidez de baixo risco, a mulher não verá o médico durante a gestação, só a midwife. Por quê? Porque somos capacitadas para fazer todos os exames, reconhecer qualquer desvio do normal e encaminhar para especialistas, caso seja necessário. Porém, numa gestação de alto risco, o médico será uma figura mais presente.

BPM Kids – Em linhas gerais, como funciona o pré-natal?

Funciona assim: a mulher engravida, vai ao GP (espécie de posto de saúde do bairro) onde ela está registrada e ele automaticamente a encaminha para o hospital. O hospital entra em contato para a primeira consulta entre 9 e 13 semanas. Nesta consulta, ela conhecerá uma midwife e fará uma bateria de exames de sangue, responderá a uma série de perguntas e ali será avaliado se é uma gestação de alto ou baixo risco – o que determinará como será o acompanhamento dela ao longo da gestação. Saiba mais aqui.

BPM Kids – Parto normal versus Cesárea: como é visto aqui?

O Brasil é campeão mundial em número de cesarianas eletivas (sem motivos justificáveis), muito acima do recomendado pelo Organização Mundial de Saúde. É também o país com o maior número de internações neonatais do mundo. A ênfase aqui está no parto normal. A cesariana é uma cirurgia de alto porte e é vista como um procedimento de emergência na Inglaterra. Ela só é feita eletivamente, como no Brasil, se você já tiver tido uma cesárea anterior ou tenha alguma condição que possa afetar o parto. 

Existem muitas controvérsias sobre o assunto. O NHS tem o direito de negar uma cesariana, caso não tenha um motivo justificável para tal procedimento. Da mesma forma, a mulher tem o direito de escolher fazer uma. Portanto, é uma briga sem fim. Em muitos casos, leva a mulher a ter um trauma muito maior, pois não se sente acolhida pelo sistema. Vale lembrar que existe maternidade privada em Londres, onde uma cesariana eletiva pode ser facilmente agendada. No entanto, o custo não fica por menos de £13,000. Existem casos de mulheres que apresentam sintomas de ansiedade extrema por conta do parto normal, muito comum entre as brasileiras. Elas são encaminhadas para especialistas, inclusive psicólogos e psiquiatras, para entender esse medo e receber a assistência necessária.

O medo excessivo do parto normal vem muitas vezes de histórias contadas por terceiros que passaram por partos violentos. Infelizmente isto existe, como aconteceu comigo.

BPM Kids – Algumas mulheres se sentem tolhidas no seu direito de escolha ao não poder optar por uma cesária eletiva. Como fica esta questão?

Existe direito de escolha sim. Pode-se escolher onde se quer ter o bebê, inclusive em casa, se quer analgesia ou não… A mulher pode recusar o exame de toque, a indução e qualquer exame que não se sinta à vontade. Aqui, nada é obrigatório e nada pode acontecer sem o consentimento. Porém, chegar no NHS e pedir para marcar o dia do parto é muito difícil de conseguir, porque a cesárea é vista como um procedimento de emergência.

Eu, por exemplo, se uma mulher chega na primeira consulta e pede a cesárea, vou primeiramente tentar entender o motivo deste pedido. Não vou diretamente encaminhá-la para uma cesárea, porque sei que esta lhe será negada. Segundo, porque existe um protocolo a ser seguido, que envolve encaminhamento para psicólogos, psiquiatras e obstetra especialista. Será o obstetra quem irá decidir se esta gestante pode ou não ter uma cesariana eletiva. Infelizmente, na maioria dos casos, este pedido é negado. É assim que funciona no NHS.

É muito importante não se ater somente a opiniões de fóruns onlines de brasileiros. Nós viemos de um sistema cesarista e, de uma forma geral, temos uma visão negativa do parto normal. É muito importante procurar informações de fontes confiáveis, como o NICE, o NHS online, o WHO, o Royal College of Midwives e o Royal College of Obstetrician.

Saiba mais sobre Pré-natal na Inglaterra

BPM Kids – Aqui tem violência obstétrica?

A violência obstétrica existe sim. Ela envolve desde abuso verbal até mesmo a negação de analgesia e de uma cesariana eletiva. Não respeitar a recusa de indução de parto, fazer episiotomia sem consentimento, falar de uma maneira mais bruta são alguns exemplos. Ou seja, fazer qualquer coisa sem autorização da mulher. Tudo se qualifica como violência obstétrica. A mulher pode recorrer e fazer reclamação diretamente no PALS office do hospital e em outros órgãos como o Birth Rights UK e o Birth Trauma UK.

BPM Kids – O que você recomenda para se evitar uma violência obstétrica?

Minha recomendação para quem acabou de chegar e não fala bem inglês é ter uma doula que tenha conhecimento dos protocolos do NHS. Para quem não puder pagar por este serviço, meu conselho é que procure fontes confiáveis para se informar sobre seus direitos e sobre como funciona o sistema. Se possível, ter sempre um acompanhante. O NHS é um sistema maravilhoso, mas é claro que tem as suas deficiências. Infelizmente, a violência obstétrica está presente diariamente nas maternidades, inclusive aqui no Reino Unido.

BPM Kids – Por fim, como fazer para ser uma midwife?

Para ser midwife no Reino Unido é preciso ter o GCSE. Para quem não tem, é necessário fazer um curso de um ano para obter este certificado. O curso de Midwifery é de 3 anos tempo integral, com 30% de aulas teóricas e 70% de aulas práticas. Envolve fazer turnos de 12.5 horas, plantão noturno e finais de semana. Acho que a profissão não é remunerada de acordo com a responsabilidade que temos. Porém, eu amo. É gratificante ver um bebê nascendo, uma mulher renascendo e uma família se formando. É incrível poder fazer parte da jornada dessa mulher, ajudando-a fisicamente e emocionalmente. No ano de 2017, as leis mudaram e não há mais bolsas de estudos dadas pelo NHS para ser midwife. A pessoa tem que bancar o curso. Nesta página do NHS tem todas as informações.

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Rhaniele de Lanteuil

Rhaniele é mãe de dois brasileirinhos lindos e levados - um menino de 4 anos e uma menina de 2 - ambos nascidos na terra da Rainha. É formada em Psicologia, tem mestrado na Inglaterra em Recursos Humanos e atualmente trabalha como professora de português como língua de herança na Escolinha do Brasil e Centro Cultural (EBeCC) em St Albans, Reino Unido. Tem também um blog pessoal iniciado em 2011 no qual compartilha a vida na Inglaterra.

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1 Comentário

George Abril 11, 2018 - 7:31 am

Minha esposa e eu acabamos de ter um bebê no NHS. Fiquei impressionado com a qualidade e atenção do serviço que recebemos. Nada de luxo, mas os profissionais são de primeira linha.

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