Depois de muito refletir, e conforme prometi no texto A minha experiência com o parto normal nos EUA, resolvi dividir agora a minha história de amamentação. Hoje, nove meses após o nascimento do meu filho, é difícil acreditar que um dia amamentar foi um MEGA desafio pra mim. Apesar de ler sobre o assunto e tentar aprender o máximo possível durante a gravidez, jamais imaginei que o início da amamentação fosse tão doloroso. Acho que sempre tive aquela ideia romantizada de que o bebê iria nascer “já sabendo” o que fazer, afinal, amamentar é um processo natural.
Assim que o meu filho nasceu, a médica o colocou no peito para que tivéssemos aquele primeiro contato pele-com-pele. Foi maravilhoso e eu me lembro que nesse primeiro momento ele tentou mamar e eu, toda orgulhosa, logo pensei “Luana, you got this!”.
Algumas horas depois, quando nos transferiram para o quarto, os médicos acharam melhor levá-lo para a UTI Neonatal para monitorarem a sua respiração, que estava um pouco rápida demais. Nada sério, apenas queriam ter certeza de que estava tudo certo com o nosso pequeno. Ele ficou na UTI por mais ou menos 24 horas e nesse período eu precisei me locomover do quarto para a UTI a cada duas ou três horas para amamentá-lo.
Ele nasceu às 23h31 e hoje, apesar de já não me lembrar tão bem dos detalhes, consigo rememorar com clareza o cansaço físico que eu sentia. Ao mesmo tempo em que eu tentava assimilar todas as informações que as enfermeiras me passavam, eu queria ter certeza de que ele estava bem e sendo amamentado. Essas primeiras horas podem ser descritas como um turbilhão de acontecimentos, emoções, felicidade, dor, ansiedade, medo. Tive auxílio de consultoras de amamentação no hospital e, nas primeiras vezes em que ele mamou, parecia que nós dois tínhamos dominado a arte da “pega correta”. Estava super confiante porque, de fato, via que estava começando a produzir leite, que ele estava mamando de forma correta e eu não sentia dor alguma.
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Porém, a confiança começou a ir embora depois de algumas horas. Ela deu lugar a dois mamilos extremamente sensíveis e machucados. Gente, como doía! O grande problema é que não havia tempo para que as rachaduras se curassem, visto a frequência da amamentação. Tentei várias técnicas, posições diferentes, às vezes até cremes que prometem ajudar neste tipo de situação e… nada! O jeito foi aguentar a dor mesmo.
Passamos duas noites no hospital, conforme é costume aqui nos EUA, e em seguida fomos para casa. O meu maior desafio nessa época foi superar a culpa que eu sentia por não querer amamentá-lo. Inconscientemente, meu cérebro estava associando a amamentação com muita (muita) dor (dor essa que me levou ao choro várias vezes). Decidi então a tirar leite algumas vezes por dia para que ele mamasse na mamadeira. Ouvi, inúmeras vezes, pessoas me dizendo para não dar a mamadeira logo no início porque ele iria se acostumar e recusar o meu peito. Sei que isso de fato acontece em alguns casos, mas cada bebê é de um jeito e com a gente a história foi diferente. Ele, até hoje, nunca recusou a mamadeira ou o peito. Fica feliz com os dois.
Acostumá-lo desde o início com a mamadeira foi benéfico, inclusive, para a nossa rotina em família, visto que tive (e tenho até hoje) certa flexibilidade de sair de casa quando necessário, sem me preocupar se ele vai ou não se alimentar. Isso também me ajudou quando voltei a trabalhar, pois tinha certeza de que ele não iria recusar a mamadeira. Além disso, porque eu comecei a tirar leite, eu consegui criar um estoque de leites no congelador, o que pra mim foi e é muito útil.
Orientação e apoio para superar a dor
É interessante olhar pra trás e fazer uma avaliação dessa minha experiência. Acho que superei esse desafio por dois motivos. Primeiro, eu me concentrei no fato de que ele seria temporário. Tinha em mente que eu iria conseguir ultrapassar essa fase porque queria saber, realmente, o que significava amamentar com prazer. Minha mãe, nessa época, fazia questão de me lembrar que essa dor ía passar e sou extremamente grata a ela por me ajudar a mudar o foco dos meus pensamentos.
Segundo, porém não menos importante, porque recebi a orientação e o apoio necessários. Ao longo da minha trajetória nos EUA, tive a sorte de conhecer pessoas especiais que acabaram fazendo muita diferença nesse momento da minha vida. Uma amiga (na verdade, minha ex-chefe), foi me visitar logo que voltamos pra casa. Enquanto conversávamos, ela mencionou que havia usado uma pomada “milagrosa” e que supostamente teria ajudado na cicatrização das feridas que ela teve. A recomendação dela foi tão certeira que hoje, olhando pra trás, acredito que não teria conseguido sem o uso dessa pomada.
Lembro que liguei para o consultório da minha médica no mesmo dia e perguntei quais as chances de me receitarem a tal pomada. Sorte a minha, a secretária com quem conversei foi extremamente prestativa e fez tudo que precisava ser feito. Minha função (função do meu marido, na verdade) era apenas ir buscar o remédio na farmácia. O nome deste milagre? All-Purpose Nipple Ointment, uma pomada vendida apenas em farmácias de manipulação e que requer receita médica (pelo menos aqui nos EUA). Ela possui ingredientes antibióticos, anti-inflamatórios e antifúngicos e, pelo menos pra mim, foi essencial durante esse processo. Comecei a utilizá-la e senti diferença em 24 horas (sério!). A partir daí, sabendo e sentindo que a dor estava melhorando, foi mais fácil continuar.
Hoje amamentar é, de fato, um dos maiores prazeres da maternidade para mim (excluindo, obviamente, as vezes em que ele, carinhosamente, resolve me morder). Sou grata por tudo que passei até hoje e pelos desafios que superei até chegar nesse estágio da amamentação. Fico feliz em dividir a minha experiência com outras mamães e espero encorajar-las a continuar tentando.
Maternidade é meio isso mesmo, nem sempre conseguimos nos planejar ou nos preparar para o que está por vir, mas não há recompensa melhor do que olhar pra trás e ver o quanto aprendemos e o quão forte nós somos (mesmo se às vezes nós duvidamos de nós mesmas)?
Observação importante sobre a pomada que mencionei durante o texto: obviamente, sempre converse com o seu médico primeiro, caso você queira conhecer mais sobre esse medicamento. Como disse, aqui nos EUA você precisará de receita médica, mas não tenho conhecimento quais os requerimentos em outros países ou se essa pomada está disponível em outros lugares. O link acima explica bem o que é e como a pomada funciona. Resolvi citá-la nesse texto porque, de fato, ela foi essencial para mim e acho importante dividir essa informação com outras mamães que estejam passando pelo estágio inicial da amamentação.